quinta-feira, 25 de abril de 2013

O extraordinário Heynckes reescreve os parâmetros que aguardam Guardiola



O treinador de 67 anos pode sair da Allianz Arena com a tríplice coroa de grandes taças e deixar seu sucessor em circunstâncias bem diferentes das que havia imaginado encontrar


Existe uma teoria, apoiada em uma declaração feita em 2001 por Sir Alex Ferguson, que anunciou que iria se aposentar no ano seguinte, que diz que, se os jogadores sabem que um técnico está de saída, o nível de concentração e disciplina dos jogadores declina. Certamente esse foi o caso com o Manchester United na temporada 2001-02. Pode até ser que seja verdade na maioria dos casos.

Mesmo assim, há exemplos para combater a teoria: as melhores performances da seleção inglesa em torneios de primeira categoria desde 1966 - em 1990 e 1996 - vieram quando os jogadores sabiam anteriormente que o técnico estaria deixando o cargo logo depois das competições. O Chelsea chegou duas vezes à final da Champions League, ganhando uma, com técnicos interinos. José Mourinho capturou a taça europeia em duas ocasiões com equipes onde já havia deixado bastante evidente que o adeus era certo (e pode fazer o mesmo este ano). Mas o exemplo de Jupp Heynckes no Bayern de Munique na atual temporada parece ser o mais extraordinário.

O Bayern já conquistou a Bundesliga, em alto estilo, quebrando recordes. Estão 20 pontos à frente do Borussia Dortmund e tem uma média de quase três gols por jogo. Terão pela frente o Stuttgart na final da Copa da Alemanha. E chegaram às semifinais da Champions League, exibindo um futebol vistoso e atropelando adversários como o Arsenal (no primeiro jogo) e a Juventus (em ambas as pernas). E Heynckes não estará no clube na próxima temporada.
"Se o Bayern conquistar a tríplice coroa, é difícil ver o que mais ele pode acrescentar"
  
Se o Bayern conquistar a Champions League em maio, Heynckes se tornará apenas o quarto técnico na história a conseguir o feito de erguer a taça por dois clubes diferentes. A primeira vez foi em 1998, quando encerrou uma espera de 32 anos do Real Madrid pela sua sétima Champions. Heynckes durou apenas mais quatro dias no comando do clube, demitido devido a uma campanha doméstica apática. Pareceu uma decisão terrivelmente drástica, mas pelo menos havia uma razão. Desta vez, é difícil imaginar o que ele poderia ter feito de diferente para se sair melhor. Seu grande defeito talvez seja ter 67 anos em uma era em que Pep Guardiola está sem clube.

Isto talvez não seja inteiramente justo com os bávaros, que agiram de forma rápida e decidida quando pareceu certo que Guardiola estaria disponível e interessado. O que ele alcançou no Barcelona foi notável. Ao conquistar 14 títulos em quatro anos, ele implementou um estilo de futebol que até Arrigo Sacchi foi forçado a reconhecer como taticamente inovador, marcando assim a primeira fase de um progresso no jogo desde que seu Milan conquistou sua segunda taça da Champions em 1990.

O contrato de Heynckes se encerraria no meio do ano e a temporada passada foi marcada por fracassos por pouco - segundo ligar na liga, segundo lugar na Copa, segundo lugar na Champions League. Qualquer clube teria se perguntado se não estaria faltando um algo a mais no treinador para que ele pudesse levar o clube às glórias.

Não havia nenhuma razão para crer que o Bayern seria capaz de usar as decepções como motivação nesta temporada, algo pelo qual Heynckes merece receber muito crédito, mesmo que não seja o único responsável. Mas o que tem sido notável nesta temporada, mais do que qualquer outra coisa, é o perfeccionismo implacável.

Quando venceram o Hamburgo por 9 a 2, o diretor de futebol, Matthias Sammer, reclamou dos dois gols sofridos em escanteios. Não foi permitido que nenhuma fraqueza passasse sem correção. As contratações - Mario Mandzukic, Xherdan Shaqiri e Javi Martinez - fortaleceram o elenco em posições-chave, não apenas aliviando a pressão sobre os outros jogadores mas dando mais opções a Heynckes. A capacidade do Bayern de tornar o seu estilo de jogo, de sufocar o adversário, ainda mais inexorável nesta temporada se deve a dois fatores. Primeiro, a quantidade de jogadores no elenco permite que o time tenha uma maior rotatividade, mas também que Heynckes deixe de fora qualquer jogador que não atenda às suas funções defensivas.

Tendo crescido como jogador no Borussia Monchengladbach, um dos bastiões da escola alemão de 'futebol total' nos anos 70, Heynckes provou que a escolha por aperfeiçoar e desenvolver o estilo deixado por Louis van Gaal foi a ideal, mesmo que a sua versão não tenha chegado a ter ferocidade do modelo holandês.

Sem comentários:

Enviar um comentário